Eis matéria do Estadão.com
Dino age para
atrair apoio de evangélicos
Governador do MA triplica
contratações de capelães com salários de até R$ 21 mil
Ricardo
Galhardo - Enviado Especial, O Estado de S. Paulo
30 Abril
2018 | 05h04
SÃO LUÍS - De olho nos votos dos
evangélicos, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), tem estreitado as
relações com os grupos religiosos do Estado. Nos últimos meses, Dino aumentou
de 14 para 50 o número de capelães contratados pelo governo estadual. A maioria
dos novos cargos foi entregue a líderes evangélicos, alguns deles filiados a
partidos da base de Dino.
Além disso, o governador deve destinar uma das vagas ao Senado em
sua chapa à deputada Eliziane Gama (PPS-MA), ligada à Assembleia de Deus. A
manobra causou descontentamento do PT, que pleiteava a vaga.
No dia 15 de março o PRP, que integra a oposição a Dino na
Assembleia Legislativa do Maranhão, protocolou uma notícia de fato junto ao
Ministério Público Eleitoral (MPE) na qual acusa o governador de “abuso do
poder eleitoral” por causa da contratação dos capelães.
Segundo a denúncia, Dino criou uma “seita
política-administrativa-religiosa eleitoral” com a indicação dos novos capelães
para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros – em um discurso a pastores ele
prometeu criar outros 10 cargos para a Polícia Civil.
Dos 34 novos postos, apenas 10 foram destinados à Igreja Católica.
Os outros 24 foram entregues a líderes evangélicos. Os salários, segundo a
denúncia apresentada ao MPE, vão de R$ 6 mil a R$ 21 mil. Entre eles estão
religiosos filiados ao PDT, PTB, PP, PPS e DEM, todos partidos que integram a
base aliada do governo Dino.
Outro capelão, o pastor major Caetano Jorge Soares, apoiou
publicamente a campanha de Dino em 2014, conforme o portal do PC do B. Já o
pastor Venino Aragão de Souza, da Igreja Universal do Reino de Deus, comanda um
programa na TV Difusora, retransmissora da TV Record no Maranhão.
Demanda. As
nomeações seguem as normas legais e a escolha dos nomes é uma prerrogativa do
governador. Em nota assinada por todos os capelães, o governo justifica as
contratações dizendo que o aumento do efetivo policial fez crescer a demanda
por serviços religiosos nos quartéis.
“Em decorrência do investimento do atual governo nas corporações
militares, aumentando de forma significativa seu efetivo e, consequentemente, o
crescimento da necessidade de apoio espiritual, pastoral com o objetivo de
resgatar valores sensíveis com a comunidade, com a própria família do policial,
havendo a necessidade do correspondente aumento de oficiais capelães, bem como,
da regionalização dessas capelanias”, afirma a nota.
Durante a Convenção Estadual das Assembleias de Deus do Maranhão,
em dezembro do ano passado, Dino, que costuma se definir como um “comunista,
graças a Deus”, falou o que pensa sobre a relação entre política e religião.
“Nós garantimos um princípio muito especial, o princípio do estado
laico. O estado laico não é um estado antirreligioso, há às vezes uma confusão
em relação a isso. O estado laico é aquele cujo governante não protege uma
Igreja em particular. Para ser laico de verdade, um estado abrange, acolhe e
estimula todas as Igrejas. E isso nós temos feito”, disse.
Em outra frente, Dino tenta integrar os evangélicos na composição
de sua chapa. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA), ligada à Assembleia de Deus,
maior denominação neopentecostal do Brasil, deve ficar com uma das vagas para a
disputa pelo Senado.
A escolha irritou o PT, um dos principais aliados de Dino.
Eliziane votou a favor do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff e
tentou convocar o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva para depor na CPI da
Petrobrás. Além disso, o PT quer indicar o ex-secretário de Esportes e Lazer do
Maranhão Márcio Jardim para a vaga.
Dino justifica a
escolha dizendo que o PT já está representado em seu governo e agora precisa
ampliar sua aliança.