Testes foram realizados em cabelos caucasiano, oriental, afro e brasileiro – este último com o pior resultado
Por Jornal da USP - Ivanir Ferreira - Editorias: Ciências da Saúde
A pesquisa foi realizada com cabelos de várias etnias: oriental, caucasiana, afro e brasileira – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens
Estudo revela os danos que secadores e pranchas de modelar causam aos cabelos e testa alguns produtos disponíveis no mercado que oferecem proteção aos fios. O chamado cabelo afro é o mais sensível às altas temperaturas, mas os prejuízos causados por estes dispositivos térmicos atingem todos os tipos de cabelos, principalmente os que passaram pelos processos de descoloração e de tingimento, que tornam os fios mais fragilizados, porosos e sem uniformidade. A pesquisa foi realizada na USP, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) e no Instituto de Química (IQ), e incluiu diferentes etnias – caucasiana, oriental, africana e brasileira.
Segundo a pesquisadora Cibele Rosana Ribeiro de Castro Lima, a etnia sempre foi um fator importante na determinação de formulações para produtos de beleza. Cada grupo étnico possui características específicas (elasticidade, resistência e brilho). O cabelo afro, por exemplo, é o mais frágil de todos devido à sua conformação ser muito ondulada, ter baixa umidade natural e distribuição irregular da oleosidade sobre a fibra..
Para obter um escopo mais abrangente, Cibele trouxe mechas de cabelos virgens de várias regiões do mundo para realizar a pesquisa: o caucasiano, representando pessoas com ancestralidade europeia (de diâmetro menor, levemente ondulado e de coloração castanho escuro); o oriental, de pessoas oriundas do Japão, China e Coreia (liso em toda a sua extensão e o mais resistente dentre todas as etnias por ter um diâmetro maior); e o cabelo afro-étnico, coletado de pessoas da África do Sul e de Gana (se mostrou o mais frágil, com estrutura enovelada e alto grau de irregularidade no diâmetro do fio. Foi o de menor resistência ao estiramento e também quebrava mais facilmente ao ser penteado).
O cabelo afro também apresentou menor conteúdo de água em relação ao cabelo caucasiano e oriental. A queratina acumulava no lado côncavo da curvatura enquanto que, nos cabelos lisos, a distribuição era feita uniformemente por toda a extensão da fibra capilar.
Por ter uma estrutura mais delicada, o fio afro teve menor resistência às altas temperaturas. A desnaturação (perda estrutural das proteínas) aconteceu a uma temperatura em torno de 223ºC, enquanto que nas outras amostras as proteínas se desnaturaram em torno de 236ºC. Acima de 250º C, os danos foram irreversíveis para todos os tipos de cabelos. Segundo a pesquisadora, o calor em excesso aumenta a porosidade dos fios, danifica a cutícula (parte mais externa) e, em seguida, o córtex (estrutura interna). O estrago é diretamente proporcional ao grau da temperatura ou tempo de permanência da prancha em contato com os cabelos. “O calor desnatura a queratina helicoidal, que é a proteína que confere resistência e elasticidade aos cabelos”, reforça.
Cabelos “brasileiros”
Nesta mesma pesquisa, Cibele também quis saber o que acontecia com os cabelos com características brasileiras quando estes passassem pelo processo de descoloração seguido de alisamento por chapinha. O resultado foi ainda pior. Segundo a pesquisadora, o cabelo descolorido se tornou extremamente frágil, ficou mais poroso e as cutículas se abriram. Em contato com o calor intenso da chapinha, o nível de desnaturação da proteína foi maior do que nos cabelos virgens.
“O calor desnatura a queratina helicoidal, que é a proteína que confere resistência e elasticidade aos cabelos”, afirma Cibele Castro, autora da pesquisa – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens
Minimização de danos capilares
Cibele afirma que os protetores térmicos disponíveis no mercado não evitam danos aos cabelos, apenas minimizam os prejuízos. No estudo de proteção térmica, foram testados dois produtos: um condicionador leave-on (que não recomenda enxague após a aplicação) e uma mistura de silicone. Como resultado, o cabelo descolorido respondeu melhor ao silicone, e o virgem, ao leave-on.
Foto: Cecília Bastos / USP Imagens
A pesquisadora explica que isso ocorreu porque o silicone forma uma película de baixa condutividade térmica em volta do fio que protege o cabelo contra o calor da chapinha. Já o leave-on, por ter bastante água em sua composição (cerca de 60%-70%), penetra no fio com mais facilidade, sem se fixar na superfície. Nas mechas de cabelos virgens, por serem mais uniformes, o leave-on permaneceu nas camadas externas, o que não ocorreu com os cabelos descoloridos. Cibele ainda alerta que é importante a escolha adequada de cosméticos e afirma que o nível de proteção desses cosméticos dependerá da composição química, do tipo de produto e do estado em que os cabelos se encontram.
A tese Caracterização físico-química e analítica de fibras capilares e ingredientes cosméticos para proteção foi defendida pela pesquisadora Cibele Rosana Ribeiro de Castro Lima, sob orientação do professor Jivaldo do Rosário Matos, do Instituto de Química (IQ) da USP.