Por Fernando Atallaia
Editor da Agência Baluarte (http://agenciadenoticiasbaluarte.blogspot.com.br/)
atallaia.baluarte@hotmail.com
O Maranhão é um estado onde a Cultura é definitivamente indissociável da forma com a qual os governantes a viram nas últimas décadas. Aqui quando se lança mão do termo há uma conexão direta com o Folclore ou a chamada ‘cultura popular’. Essa associação sempre serviu aos currais eleitorais e às intenções ‘políticas’, de forma que é impossível não tratar do assunto sem que se evoquem as pretensões que nos emperraram diante dos demais estados brasileiros.
A grande maioria de nossos Secretários de Cultura até hoje obedeceu à lógica do ‘pão e circo’ ou das festividades datadas (Festejos Juninos e Carnaval) para definir ou mesmo classificar o nosso conceito de Cultura. Em obediência, é claro, às orientações de seus governadores. O Maranhão que tem uma das mais vastas bibliografias; uma tradição literária rica, fecunda e promitente; uma vocação para os Movimentos Culturais de Juventude e a contínua celebração de artistas em torno de Festivais de Música caiu no limbo do obscurantismo por anos a fio. Em contrapartida, hoje nosso estado anuncia uma sólida, consistente e nova conjuntura.
Para falar na Arte produzida por estas plagas nos dias atuais, por exemplo, devemos nos remontar, necessariamente, ao amplo caldeirão de manifestações culturais que nos batem à porta. E aí se incluem os artistas e agentes das mais variadas formas do Fazer Cultural. Só em São Luís, para se ter ideia, é preponderante e notável a presença de uma gama de artistas que nos apresentam grande diversidade. O Maranhão de hoje não é somente o estado do Bumba-Meu-Boi e do Tambor de Crioula. Temos grupos de Samba, bandas de Reggae, Rock, conjuntos de Jazz, Blues, Instrumental, Música Erudita e Clássica; uma cena consolidada da Poesia em todos os cantos e bairros da capital, sem falar nos municípios maranhenses que, a seu modo, também apresentam suas ‘armas’.
O governador Flávio Dino(foto) terá que nomear um Secretário de Cultura que entenda do Setor em sua diversidade e que não conceba a Cultura do Estado somente como Tambor de Crioula e Bumba-Meu-Boi
Mas apesar das conjecturas referidas, ainda não despertamos para a riqueza de nossa portentosa tradição. Ainda ovacionamos os artistas de outros estados em detrimento dos nossos; valorizamos as peças teatrais do eixo Rio-São Paulo em detrimento de nosso Teatro e, por incrível que pareça, legitimamos todo investimento (patrocínio e atenção) na Cultura de nossos vizinhos com a escancarada aprovação de nossos gestores. Sempre foi de conhecimento de todos que a SECMA e a Func, órgãos públicos responsáveis por nossa gestão no Setor nunca mediram esforços para fazer às vezes de bons hospedeiros a baianos, cariocas e paulistas.
Essa inversão precisa acabar. Estamos às vésperas e prestes a iniciar um novo Governo que prega a mudança estrutural em todas as áreas da Gestão Pública. Temos problemas igualmente estruturais em nossa Área. O artista/agente cultural do Maranhão está no fundo do poço. Não recebe apoio para viabilidade de sua Obra. Por falta de meios e investimentos permanentes, não trabalha conjuntamente com outros profissionais afins na propagação e difusão dos valores culturais. Nosso banco de dados e nosso Patrimônio Cultural Material e Imaterial estão abandonados à própria sorte. Nossa identidade cultural vulnerável, fragmentada, confinada ao quase desaparecimento.
Em breve, será anunciado o Secretário de Cultura para os próximos quatro anos. Ele terá a obrigação de entender e compreender profundamente todas as nuances, reivindicações, peculiaridades, demandas e lutas de nossos artistas em suas formas de trabalho e expressão. Terá também que organogramar um sólido programa e plano de ação para banir de vez os conceitos delimitativos que beneficiam somente a uma, duas formas de fazer Cultura. Terá que entender, por obrigação da função, sobre as questões e problemas culturais que se arrolam às nossas Artes Plásticas, Escultura, Cinema, Arquitetura, Artesanato, Literatura e Crítica Literária. Apresentar somente a Programação Junina e os Carnavais é uma prova de que nada mudou e de que o próximo governo poderá repetir o antecessor.
Não é por aí.