Pelego é o termo que designa os
representantes de classes sindicais que fazem o jogo do governo e das classes
patronais.
Não se fala mais em manifestações. Por
que?
A classe trabalhadora não acredita
mais em seus representantes, que aproveitam essa condição para mergulharem nos
esquemas do governo e dos patrões e se darem bem.
Com isto os trabalhadores mendigam por
melhores condições e trabalho e de salários.
O enfraquecimento de organizações populares como sindicatos, associações
e similares foi algo muito bem arquitetado, pensado, e induzido de forma
consciente pelo "mainstream" a fim de enfraquecer o debate entre o
capital e o trabalhador possibilitando uma total hegemonia do primeiro em
relação ao segundo, com isso formando a sociedade atual denominada de
"pensamento único".
Foi a massificação dos ensinamentos
"do que é melhor" que contribuiu para que a sociedade se tornasse
pragmática e dessa forma fugisse de qualquer debate de diversidade ideológica
que toque à reformas estruturantes do modelo.
De forma que todos aqueles que pensam de
forma diferente do que foi traçado são denominados de radicais, de extremistas,
de forma pejorativa de sonhadores ou "polianas". Abaixo segue um
artigo que tenta alertar sobre o conformismo do pensamento pragmático atual.
UTOPIA E PRAGMATISMO
Em sentido amplo, a utopia pode ser entendida como tudo o que ainda não foi tentado. A importância da utopia é a de mover segmentos da população que estão insatisfeitos e não comprometidos com a ordem existente, por isso ela é essencial na democracia. A utopia é uma condição “sine qua non” do homem como ser, que deseja, que busca a superação, a transcendência, os sonhos.
Ao contrário, o pragmatismo tão propalado nesta sociedade pós – moderna comporta imensos riscos. Ser pragmático é, em miúdas palavras, ser prático ou seguir uma praxe estabelecida. Desta forma, ao exercer esse princípio corremos o risco da apatia, da adaptação, ou, se preferirem, do conformismo. Este conformismo está expresso quando concordamos com o que está posto, quando passamos a acreditar que não existem alternativas no jogo político, por exemplo.
Segundo Mannheim: “A desaparição da
utopia ocasiona um estado de coisas estático em que o próprio homem se
transforma em coisa. Iríamos, então, nos defrontar com o maior paradoxo
imaginável, ou seja o do homem que, tendo alcançado o mais alto grau de domínio
racional da existência, se vê deixado sem nenhum ideal, tornando-se um mero
produto de impulsos. (...) o homem perderia, com o abandono das utopias, a vontade
de plasmar a história e, com ela, a capacidade de compreendê-la”
Este “estado de coisas estático” é
percebido quando ouvimos as pessoas afirmarem que "não gostam de
política", ou quando observamos a cristalização de um conjunto de noções
anti-políticas no senso comum. Esta expressão de tendências indica fenômenos
bem mais amplos do que a simples "desinformação".
Ao sufocar a utopia e enaltecer o
pragmatismo, o mundo pós - moderno estabeleceu mecanismos de reprodução
sistêmica e tornou - se autômato, colocando em risco a própria democracia. Este
pragmatismo cria sociedades marcadamente burocratizadas com instituições
políticas rigorosamente fora de controle social o quê, por seu turno, é fonte
propositiva de irregularidades, de desvios, de crimes, e da violência.
No campo político o pragmatismo e a sua busca por resultados imediatos tende a subordinar a concepção da ética. A ética não deve ser reduzida como a esfera específica onde se disputam posições; não deve ser limitada aos interesses em jogo.
Compete à sociedade introduzir a
perspectiva da universalização que ultrapasse os antagonismos da busca pelo
poder e supere a sua dispersão da ética. Compete à sociedade afirmar aquilo que
ela deve ser para além de suas fraturas.
Os defensores da ordem vigente procuram
desqualificar e até mesmo ridicularizar os contestadores utopistas. Com o
tempo, muitos destes se rendem ao discurso “realista”. As necessidades
políticas para a aquisição e manutenção do poder levam à prática de atitudes
antes criticadas, mas agora legitimadas pelo “pragmatismo”.
É muito comum a crítica ao “utopismo” dos outros, sendo que o crítico coloca-se na posição do “realista”. Nesses casos, a crítica tende a ser pejorativa, ou mesmo feita com certa condescendência. De qualquer forma, o objetivo é caracterizar o outro como “irrealista”, “sonhador”, etc. Como escreve Mannheim:
“Os representantes de uma ordem dada irão
rotular de utópicas todas as concepções de existência que do seu ponto-de-vista jamais
poderão, por princípio, se realizar. De acordo com esta utilização, a conotação
contemporânea do termo “utópico” é predominantemente a de uma ideia em
princípio irrealizável. (...)Não obstante, os homens cujos pensamentos e
sentimentos se acham vinculados a uma ordem de existência na qual detêm uma
posição definida, manifestarão sempre a tendência a designar de absolutamente
utópicas todas as ideias que tenham se mostrado irrealizáveis apenas no quadro
da ordem em que eles próprios vivem.”.
Portanto, é imprescindível que a
população não perca o seu poder de fiscalização, de controle, e de busca por
uma sociedade mais justa e mais ética, ou como diz Mannheim:
“Com efeito, quanto mais ativamente um
partido em ascensão colabora em uma coalizão parlamentar, tanto mais abandona
seus impulsos utópicos originais e, com eles, sua perspectiva ampla, tanto mais
seu poder para transformar a sociedade tenderá a ser absorvido por seus
interesses em detalhes isolados e concretos. (...)”.