Por Reinaldo Azevedo
Após cinco anos e 20 negativas do regime cubano de viajar para o
exterior, a dissidente, jornalista e blogueira Yoani Sánchez chegou na
madrugada desta segunda-feira ao Brasil, primeira parada de uma viagem de 80
dias que a levará a uma dezena de países da América e da Europa.
Depois de pegar um voo na
Cidade do Panamá, Yaoni, de 37 anos, desembarcou no Aeroporto Internacional
Guararapes, no Recife, onde foi recebida por amigos e pelo diretor Dado Galvão,
que convidou a cubana para vir ao Brasil participar da exibição do documentário
Conexão Cuba-Honduras na noite desta segunda, em Feira de Santana (BA). Yoani é
uma das entrevistadas do filme, que trata da falta de liberdade de expressão
nos dois países.
Acostumada a enfrentar a
perseguição do regime comunista em seu país natal, onde já foi presa e
torturada por escrever sobre as dificuldades do povo cubano provocadas pela
ditadura dos irmãos Fidel e Raúl Castro, Yoani Sanchéz foi surpreendida no
aeroporto por um protesto de um pequeno grupo de militantes em defesa da
ditadura castrista e contra sua presença no Brasil.
No saguão, a militância do
chamado “Fórum de Entidades de Solidariedade a Cuba” recebeu a blogueira com
gritos de “Fora Yoani” e a acusou de ser agente da CIA, o serviço de
inteligência dos Estados Unidos.
Em um ato grosseiro, um integrante do grupo tentou esfregar notas
falsas de dólar no rosto da cubana, que reagiu de modo a valorizar a liberdade
de expressão inexistente em Cuba: “Isso é a democracia. Queria que em meu país
pudéssemos expressar opiniões e propostas diferentes com esta liberdade”.
Nos sete dias em que ficará no
Brasil, no entanto, Yoani Sanchéz não está livre das perseguições do regime
cubano, como revela reportagem de VEJA desta semana.
O governo de Havana escalou um grupo de agentes para vigiá-la e
recrutou outro com a missão de desqualificar a ativista por meio de um dossiê
com características patéticas – o documento a acusa de ir à
praia em Cuba, tomar cerveja e aceitar premiações internacionais concedidas a
defensores dos direitos humanos.
O plano para espionar e constranger Yoani Sánchez foi elaborado pelo
governo cubano, mas será executado com o conhecimento e o apoio do PT, de
militantes do partido e de pelo menos um funcionário da Presidência da
República.
Turnê
Do Recife, Yaoni seguirá inicialmente em avião para Salvador e, de lá, irá de carro até Feira de Santana, cidade de 557.000 habitantes, a 116 quilômetros da capital baiana.
A viagem da blogueira, uma das vozes mais críticas da ilha, foi
possível devido à reforma migratória vigente desde o dia 14 de janeiro em Cuba.
No ano passado Yaoni tentou
visitar o Brasil para participar da apresentação do documentário e, apesar de
receber o visto de entrada brasileiro, as autoridades cubanas voltaram a
negar-lhe a permissão de saída.
A blogueira terá no Brasil uma intensa agenda que inclui sua
participação em conferências e debates sobre liberdade de expressão e direitos
humanos, e também vai divulgar o livro De Cuba, com Carinho, uma coletânea de
seus textos sobre o triste cotidiano do povo cubano.
Na quarta-feira ela fará
turismo em Salvador e depois virá a São Paulo, onde tem atividades até sábado.
A viagem de Yaoni Sanchéz pelo mundo também inclui México, Peru, Estados
Unidos, República Tcheca, Alemanha, Suécia, Suíça, Itália e Espanha, onde entre
outros eventos participará na cidade de Burgos de um congresso sobre internet
entre 6 e 8 de março.